O roteiro do capítulo final da conquista do bicampeonato da América pelo Internacional não poderia ter sido mais completo. Jogo nervoso, pegado, ríspido na maior parte do tempo. E com os brasileiros jogando mal e entrando demais na pilha dos mexicanos, principalmente na etapa inicial. Até que, aos 42 min, Fabián acerta um chute mais do que improvável e vence Renan: 1 a 0. Nervosismo no Beira-Rio. Silêncio, jamais. A torcida colorada não parou de incentivar o time. E tal postura, com certeza, foi determinante para o epílogo da Libertadores-2010.
Segundo tempo. O Inter volta pilhado, mas parecia mais seguro em campo. E o Chivas, com o placar a favor, mais tenso. Com marcação adiantada, os colorados foram tomando conta da partida. E surgiram os gols da nova virada sobre o Chivas Guadalajara, time experiente, matreiro, com boa técnica e que jogou no limite para fazer história no Beira-Rio.
Mas a história era sobre predestinados que vestiam o vermelho de um clube ainda mais predestinado e que, nos últimos oito anos, rompeu as fronteiras que faltavam na sua história. Duas Libertadores (2006 e 2010). um Mundial (2006), uma Recopa Sul-Americana (2007) e uma Copa Sul-Americana (2008).
Mas, antes de enfileirar as últimas conquistas coloradas, essa é uma glória de predestinados. Como Rafael Sóbis, autor do gol de empate. Como Leandro Damião, obscuro até tocar na bola pela segunda vez e cravar a virada. Como Giuliano, o reserva mais titular, decisivo e iluminado dessa campanha. Como Celso Roth, achincalhado por um país que se alimenta da distribuição de rótulos boçais, mas que calou a boca de seus insistentes detratores. Como os guerreiros Sandro e Guinazu, volantes de encher os olhos, na técnica, na força, na dedicação e no respeito com o qual vestem a camisa. Como da diretoria vermelha, que enfrentou o pânico da ameaça de rebaixamento em 2002, deu a volta por coma, remodernizou o clube, reiventou a máquina colorada, tornou a gestão viável e fez do Internacional, com mais de 100 mil sócios, um exemplo perfeito de interação inteligente, prática e econômica com seu torcedor.
O Internacional-2010 é marcado pela predestinação. Insisto com isso. Vejam porque:
1. Rafael Sóbis, desde sua volta, ainda não havia marcado um gol. Fez na hora certa e derrubou o paredão mexicano.
2. Giuliano, o talismã, decidiu jogos contra Estudiantes (uma vez), São Paulo (duas vezes) e Chivas (duas vezes). Estava escrito na história que ele seria o personagem dessa conquista.
3. Leandro Damião foi lançado entre os profissionais em janeiro. Nos seis primeiros jogos do ano, marcou 4 gols. Depois, perdeu fôlego e sumiu. Não balançou mais as redes. Hoje entrou, quase desconhecido, e virou herói. É a versão mais nova (e com mais futuro) de Adriano Gabiru.
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5. E, por fim, Sandro. Vendido desde o fim do ano passado para o Tottenham e nunca se escondeu da missão. Jamais evitou uma dividida. Brigou até o fim. E vai para Londres com a certeza do dever (bem) cumprido. Ao lado do General Bolivar e do onipresente Guinazu, Sandro nos mostrou nessa campanha que ainda há um pouco de fidelidade e compromisso na relação entre clube/jogador.
O bicampeonato do Internacional é a conquista da predestinação. A camisa vermelha hoje foi, como nunca, a glória do desporto nacional, que nós teremos que exaltar. E a América, quatro anos depois, volta a ser colorada. Como as letras desse texto.
Saudações,
Michel Macedo
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